domingo, 26 de agosto de 2012

Vender o Peixe



Nessa semana que passou, eu conheci um responsável por um portador de lesões neurológicas, causadas por um AVE de grandes proporções, que graças a sua condição financeira, pode correr atrás dos melhores e mais atuais tratamentos. E ele comentou comigo que foi a São Paulo conversar com o único neurocientista que utiliza o neurofeedback no Brasil.

Talvez porque fosse sexta feira, eu já estava com a bateria duracel chegando no final, quando eu ouvi essa frase ,eu me aborreci de maneira razoável. E eu não sou disso.

Então eu retruquei: o único... Eu aprendi sobre feedback na faculdade, esse principio é usado para reabilitação ortopédica a décadas e tudo em neurológica se faz com base nesse conhecimento.

O cidadão não gostou, e disse, mas o neurocientista usa programas de computador e atua diretamente nos neurônios. Mas nós também, eu disse, só que com as mãos, com o comando de voz e para os mais avançados com programas de computador.

A criatura me respondeu - o neurocientista disse que a Fisioterapia também faz isso só que indiretamente. Aí eu perdi a paciência, e disse, como é que é!? Indiretamente! Tudo que acontece no nosso corpo depende diretamente da ação dos neurônios. E perguntei esse cara é o que? Médico?

O cidadão me respondeu, não, ele psicólogo com especialização em neurociência e escreveu um livro.

Aí só respirando fundo. Muuuito fundo. 

Isso aconteceu sexta feira, passei o final de semana todo remoendo isso, e agora eu tenho que desabafar.

Um psicólogo, ainda que tenha especialização em neurociência, realizar a reabilitação de pacientes neurológicos, certamente e legalmente, não deveria acontecer. Ostentar o título de neurocentista, só porque ele concluiu a especialização, com certeza, também não . Onde está o crefito/SP que não está, vendo isso... não sei. O que eu sei é que a culpa disso estar acontecendo é nossa, dos Fisioterapeutas, porque, em pleno século 21, a gente ainda não sabe vender nosso peixe. É triste, mas é real.

Não escrevemos sobre as descobertas científicas que ocorrem no nosso dia a dia; não publicamos sobre as conquistas na reabilitação de pacientes difíceis, não divulgamos as técnicas que usamos, os avanços que implementamos e as patologias  em que atuamos. Não nos apropriamos do que é nosso.

E quando o fazemos, somos tímidos, não somos midiáticos, não floreamos as coisas. Enquanto nós achamos trabalhoso escrever um artigo; impossível buscar parceiros para escrever um livro e publicá-lo, ainda que de maneira virtual; que marketing é um bicho de sete cabeças, dinheiro gasto á toa, que a melhor propaganda é o boca a boca, deixamos brechas para que qualquer um, de qualquer área, utilize nosso conhecimento e ganhe fortunas as nossas custas.

Até quando?

Esse mês, o Papo de Fisio completa três anos, divulgando, explicando e lutando no mundo real e virtual para que nós, Fisioterapeutas, com os mesmos instrumentos que os profissionais de outras áreas utilizam, alcancemos o nosso devido lugar, de maneira honesta, científica e verdadeira.

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