Nessa semana que
passou, eu conheci um responsável por um portador de lesões neurológicas, causadas
por um AVE de grandes proporções, que graças a sua condição financeira, pode
correr atrás dos melhores e mais atuais tratamentos. E ele comentou comigo que
foi a São Paulo conversar com o único neurocientista que utiliza o
neurofeedback no Brasil.
Talvez porque fosse
sexta feira, eu já estava com a bateria duracel chegando no final, quando eu
ouvi essa frase ,eu me aborreci de maneira razoável. E eu não sou disso.
Então eu retruquei: o
único... Eu aprendi sobre feedback na faculdade, esse principio é usado para
reabilitação ortopédica a décadas e tudo em neurológica se faz com base nesse
conhecimento.
O cidadão não gostou,
e disse, mas o neurocientista usa programas de computador e atua diretamente
nos neurônios. Mas nós também, eu disse, só que com as mãos, com o comando de
voz e para os mais avançados com programas de computador.
A criatura me
respondeu - o neurocientista disse que a Fisioterapia também faz isso só que
indiretamente. Aí eu perdi a paciência, e disse, como é que é!? Indiretamente! Tudo
que acontece no nosso corpo depende diretamente da ação dos neurônios. E
perguntei esse cara é o que? Médico?
O cidadão me
respondeu, não, ele psicólogo com especialização em neurociência e escreveu um
livro.
Aí só respirando
fundo. Muuuito fundo.
Isso aconteceu sexta feira, passei o final de semana todo
remoendo isso, e agora eu tenho que desabafar.
Um psicólogo, ainda
que tenha especialização em neurociência, realizar a reabilitação de pacientes
neurológicos, certamente e legalmente, não deveria acontecer. Ostentar o título
de neurocentista, só porque ele concluiu a especialização, com certeza, também
não . Onde está o crefito/SP que não está, vendo isso... não sei. O que eu sei
é que a culpa disso estar acontecendo é nossa, dos Fisioterapeutas, porque, em
pleno século 21, a gente ainda não sabe vender nosso peixe. É triste, mas é
real.
Não escrevemos sobre as
descobertas científicas que ocorrem no nosso dia a dia; não publicamos sobre as
conquistas na reabilitação de pacientes difíceis, não divulgamos as técnicas
que usamos, os avanços que implementamos e as patologias em que atuamos. Não nos apropriamos do que é
nosso.
E quando o fazemos, somos
tímidos, não somos midiáticos, não floreamos as coisas. Enquanto nós achamos
trabalhoso escrever um artigo; impossível buscar parceiros para escrever um
livro e publicá-lo, ainda que de maneira virtual; que marketing é um bicho de
sete cabeças, dinheiro gasto á toa, que a melhor propaganda é o boca a boca, deixamos
brechas para que qualquer um, de qualquer área, utilize nosso conhecimento e
ganhe fortunas as nossas custas.
Até quando?
Esse mês, o Papo de
Fisio completa três anos, divulgando, explicando e lutando no mundo real e
virtual para que nós, Fisioterapeutas, com os mesmos instrumentos que os
profissionais de outras áreas utilizam, alcancemos o nosso devido lugar, de
maneira honesta, científica e verdadeira.
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