Homofisio Economicus

Observando o fisiomundo à minha volta, vejo meus colegas preocupados com três coisas: ter sucesso, ter dinheiro e serem líderes.E com essa visão curta das coisas eles acabam dando tiros nos próprios pés.

Desde o início do século XIX que os pesquisadores da administração definiram o chamado “homo economicus”, ou seja, as pessoas são incentivadas exclusivamente por interesses salariais e materiais. Estamos no século XXI e por mais que as profissões tenham evoluído parece que as coisas não mudaram muito.

Por muito tempo pregou-se a idéia de que estar satisfeito com a profissão é estar no caminho para o sucesso, que fazer o que gosta é sinônimo de êxito profissional. E que êxito profissional é ter dinheiro, muito dinheiro.

E é andando por esse caminho de idéias curtas e obscuras que eu estou vendo a galera se enrolar, principalmente os que fazem parte de uma instituição. Desde que as instituições de saúde se tornaram empresas, que nós nos tornamos, simplesmente, colaboradores. Sem nenhum glamour por sermos da área da saúde. É um fato.E isso está nos empurrando à adoção de novos comportamentos.

E um desses comportamentos é ter atitudes empreendedoras. É claro que isso não significa que todo mundo vai escrever projetos com idéias estapafúrdias só pra dizer que é intraempreendedor. Faça-me o favor!

Mas ter atitude empreendedora dentro de uma organização pode ser simplesmente não atrapalhar, que quer melhorar algum protocolo ou implantar um tratamento novo. Não há coisa mais triste do que ver um colega dizer, diante de uma idéia nova, as frases: Que lucro eu vou ter com isso? Quanto eu vou ganhar a mais para fazer isso?

E dizer isso alto para todo ouvir e ficar sabendo e ainda encher os ouvidos dos outros colegas contra aquela idéia que traria alguma modificação nas coisas é nos dias de hoje, literalmente, dá um tiro no próprio pé!

Se você escolheu o caminho da fisioterapia, já deve saber, a essa altura do campeonato, que no nosso mundo o significado da palavra lucro é muito maior do que o que se conhece por aí, vai além do dinheiro e do sucesso e não nada a ver com ser líder.

O lucro pode vir através de reconhecimento e respeito a nossas propostas, pode vir através de aplausos calorosos ao final de uma palestra ou através de uma promoção. Mas também vêm através de sorrisos emocionados, abraços carinhosos, de orações que outros fizeram por nós(o minimiza aquelas que muitas vezes nós mesmo não tivemos tempo para fazer).Mas deve vir principalmente de você mesmo:do prazer de fazer bem feito.

Por isso preste atenção às mensagens que envia a si mesmo: quando se surpreender repetindo que o emprego é chato, que não tem valor, ou que só estará feliz profissionalmente se o reconhecimento vier em forma de aumento de salário, pare e se pergunte por que se sente assim. E mude a atitude.

Quem sabe investir algumas horas semanais em um novo contexto, quem sabe até ajudar naquela idéia que o colega está tentando implantar, pode mudar completamente sua visão sobre a empresa e seu trabalho. Mas se ainda assim seu lado homofisio economicus estiver sedento por dinheiro, dominando sua personalidade e seus pensamentos, então é melhor buscar um exorcista: porque o bicho tá pegando pro seu lado!

Ser líder é legal, mais dá um certo trabalho,ter sucesso é bom,ter dinheiro é ainda melhor,eu concordo e busco isso todos os dias.Mas não limite seu fisiotalento e sua fisiocompetência a 30 moedas de ouro. Judas fez isso, a mais de dois mil anos e você viu no que deu. A diferença é que nos dias de hoje o crucificado, com certeza, será você mesmo. Juízo!